A hérnia inguinal é um problema que pode atingir desde recém-nascidos até idosos; homens e mulheres, predominando fortemente no sexo masculino. Essa doença é uma causa frequente de limitações para a vida diária e o trabalho. Vamos conhecer mais sobre essa condição e seu tratamento!
O que é a hérnia inguinal?
A definição de hérnia consiste na passagem anormal de um órgão, através de uma fragilidade ou defeito, de sua posição anatômica original para uma outra. A principal manifestação da hérnia é o abaulamento, o surgimento de uma “bolinha” no corpo.
Ou seja, o termo hérnia se refere ao defeito ou fragilidade – ao “buraco” – por onde acontece a passagem e não à “bolinha” percebida. Esse abaulamento é formado pelo saco herniário que é uma membrana que envolve o interior do abdômen e passa a envolver também o órgão herniado.
O conteúdo mais comum de hérnias do abdômen é gordura! Porém, em alguns casos pode acontecer a passagem de órgãos mais complexos como alças intestinais, o apêndice, a bexiga urinária e, em hérnias no abdômen superior, até o fígado pode sair pelo defeito herniário.
Como o conteúdo herniário está fora de seu local de origem, o normal é voltar para esse local. Por isso, o normal é a bolinha “voltar para dentro”; quando isso não acontece pode haver uma complicação do quadro, ou se tratar de uma doença completamente diferente.
Assim, o termo hérnia descreve a doença em vários locais e é esse local que dá o nome de cada hérnia:
- Hérnia inguinal
- Hérnia femoral
- Hérnia umbilical
- Hérnia epigástrica
- Hérnia de hiato (esofágico)
- Hérnia incisional (surge em cicatrizes de cirurgias prévias)
- Hérnia de disco (não é tratada pelo cirurgião digestivo, mas também obedece a essa definição)
- E muitas outras, menos comuns
A hérnia inguinal é aquela que surge na região da virilha, podendo se apresentar de apenas um lado, dos dois e, em alguns casos, aparecer do outro lado depois do tratamento do primeiro lado.
Na virilha, se encontra uma região do corpo chamada canal inguinal. No desenvolvimento dentro do útero, os testículos se formam dentro da barriga e descem para a bolsa escrotal através do canal inguinal. Nas mulheres, o canal inguinal abriga uma estrutura de sustentação do útero.
Por esse motivo, o canal inguinal é uma fragilidade natural na parede do abdômen, justificando porque a hérnia inguinal é tão comum. Também por esse motivo o abaulamento da hérnia inguinal pode se estender até a bolsa escrotal em casos mais intensos.
A hérnia inguinal é um dos meus assuntos favoritos, assim como seu tratamento cirúrgico. O impacto que o tratamento traz para a qualidade de vida das pessoas é marcante! Siga lendo para conhecer mais e agende sua consulta se quiser discutir o tema ou falar sobre seu caso!
Vamos descobrir do que se tratam as outras hérnias que citamos anteriormente:
Hérnia femoral:
A hérnia femoral se apresenta de forma muito semelhante à hérnia inguinal, porém a passagem do seu conteúdo acontece abaixo do canal inguinal, junto da passagem dos vasos sanguíneos que suprem nossas pernas.
O abaulamento se apresenta de forma mais comum na raiz da coxa! Diferentemente da hérnia inguinal, essa condição é mais comum nas mulheres.
O defeito no canal femoral é mais estreito que no canal inguinal, por isso os órgãos herniados nesses casos estão sob maior risco de complicações que serão discutidas mais à frente neste artigo.
Hérnia umbilical:
O defeito herniário nesses casos se encontra no umbigo! A cicatriz umbilical é outra área de fragilidade natural na parede do abdômen, por causa da passagem do cordão umbilical e seus vasos sanguíneos para nutrição do bebê no desenvolvimento dentro do útero.
Normalmente esse defeito cicatriza completamente durante os primeiros dois anos de vida, sendo necessário tratamento somente após esse período. Eventualmente a hérnia umbilical pode persistir até a vida adulta, mas isso se verifica em cerca de 1 a cada 10 pacientes.
Hérnia epigástrica:
Essas hérnias se apresentam através de defeitos no fechamento da linha média da barriga, uma das etapas fundamentais na formação da criança dentro do útero.
Podem ocorrer isoladamente ou como um conjunto de defeitos que se localizam em uma linha reta no meio da barriga – a “linha alba” – acima do umbigo e abaixo da região que conhecemos como “boca do estômago”.
Hérnia de hiato:
Nessa condição, não há abaulamento visível externamente, uma vez que o defeito herniário se encontra numa comunicação interna e natural entre o tórax e abdômen, por onde passa o esôfago, o órgão que traz o alimento da boca até o estômago.
Essa passagem natural é conhecida como hiato esofágico e pode eventualmente se alargar, possibilitando a passagem de órgãos do abdômen para o tórax. O órgão envolvido com mais frequência é o estômago, mas em casos mais dramáticos podemos verificar passagem de alças de intestino e do baço.
A hérnia de hiato tem uma relação muito próxima com a doença de refluxo gastro-esofágico. Saiba mais sobre essa doença e opções de tratamento no link abaixo:
Conheça 5 medidas anti-refluxo sem usar remédio!
Hérnia incisional:
Essas hérnias podem ocorrer em qualquer cicatriz de cirurgia abdominal. A abertura da barriga, por mais que seja necessária e segura para o tratamento de várias doenças de órgãos abdominais, deixa uma fragilidade permanente na parede abdominal.
A qualidade da cicatrização de cada indivíduo determina o risco dessa fragilidade se transformar em um defeito herniário. Fatores como a nutrição, obesidade e presença de infecção da região operada são determinantes do surgimento da hérnia incisional.
Acha que você, algum familiar ou conhecido podem ter hérnia inguinal ou alguma dessas outras hérnias? Conte comigo para definirmos o melhor tratamento!
O que causa a hérnia inguinal?
Considerando que o canal inguinal é uma fragilidade natural na parede abdominal por causa da passagem dos testículos, é fácil concluir que esse é um ponto que facilita a passagem de outros órgãos e, consequentemente, a ocorrência da hérnia inguinal.
O raciocínio é o mesmo para as outras hérnias e pudemos perceber na sessão anterior que toda área de fragilidade natural facilita a ocorrência dessas patologias. Da mesma forma, áreas de fragilidade causadas por cirurgias ou até mesmo acidentes também favorecem o aparecimento das hérnias incisionais.
Outro grande fator que explica o surgimento das hérnias é a pressão dentro do abdômen. Situações que causam aumento da pressão dentro da barriga, favorecem o surgimento das hérnias, uma vez que a pressão, com o tempo, buscará um ponto de escape.
Algumas situações comuns que aumentam a pressão dentro da barriga:
- Tosse crônica
- Levantamento de peso – por trabalho ou por prática de atividade física
- Constipação – esforço para evacuar aumenta a pressão abdominal
- Esforço urinário – em especial em pacientes com problemas na próstata
- Ascite – presença patológica de líquido dentro do abdômen
- Portadores de derivação ventrículo-peritoneal – cirurgia necessária para tratamento de doenças neurológicas que aumentam a quantidade de líquido no crânio e que desvia esse líquido para a cavidade abdominal
- Tumores de órgãos abdominais
Outro fator de aumento intenso e prolongado da pressão abdominal é a obesidade! Essa doença está envolvida no surgimento ou na atenção e tratamento de várias doenças do aparelho digestivo. Conheça um pouco mais sobre seu tratamento neste link:
As 7 perguntas mais frequentes sobre Cirurgia Bariátrica!
Uma tendência familiar de ocorrência de hérnia inguinal também é reconhecida, sendo que há casos na família de mais de 10% dos pacientes. Da mesma forma, há uma elevação no risco de ocorrência de hérnia inguinal se o irmão ou irmã do paciente também apresentar a condição.
Existem algumas síndromes que causam dificuldade na produção ou manutenção do colágeno, um componente importante na formação das estruturas do nosso corpo. Nesses pacientes o risco de hérnias é maior, pois há um aumento global das fragilidades naturais do abdômen.
Alguns exemplos de síndromes com alteração do colágeno (mas não limitadas a isso):
- Ehlers-Danlos
- Freeman-Sheldon
- Hunter-Hurler
- Marfan
- Osteogênese imperfeita
Até mesmo o hábito de fumar pode aumentar o risco de hérnias, devido a alterações no processamento do colágeno que os fumantes apresentam.
Como saber se tenho hérnia inguinal?
Os sintomas das hérnias são consequência direta do deslocamento de órgãos pelo defeito herniário.
O principal sintoma na hérnia inguinal é o abaulamento. Como já discutido, ele pode se estender até a bolsa escrotal e ser muito volumoso. Nas outras hérnias da parede abdominal (femoral, umbilical e epigástrica), o abaulamento também marca a sintomatologia.
Outra característica é a redução do abaulamento, ou seja, quando o órgão volta para dentro da barriga. Com frequência os pacientes com hérnia aprendem as melhores condições e movimentos para realizar a redução.
Também é frequente que a hérnia inguinal não apresente abaulamento pela manhã, mas vá aparecendo ao longo do dia.
A dor resultante do abaulamento não costuma ser muito intensa e muitas vezes é descrita como incômodo ou queimação no local. Atividades físicas e esforço abdominal podem piorar a dor!
Esse conjunto de sinais sugere fortemente o diagnóstico de hérnia inguinal e outras hérnias. O exame físico no momento da consulta médica confirma o diagnóstico, mas em alguns casos de dúvida, a ultrassonografia da parede abdominal pode ser utilizada.
Na avaliação de hérnias incisionais ou de maior volume e até mesmo na avaliação de hérnias mais raras que ocorrem no interior do abdômen, a tomografia computadorizada de abdômen total seria um exame de grande ajuda!
Está sentindo alguma dessas alterações que discutimos até aqui? Essa bolinha que apareceu na barriga está te incomodando? Vamos decidir juntos o melhor tratamento! Marque sua consulta!
Quais são os riscos da hérnia inguinal?
Alguns sintomas menos frequentes na hérnia inguinal são aqueles que acontecem quando o órgão não consegue voltar para dentro do abdômen e fica “preso”no saco herniário. A essa situação chamamos hérnia encarcerada.
O encarceramento pode acontecer em qualquer tipo de hérnia abdominal e tem seu primeiro sinal na falha na redução do abaulamento. O órgão mais envolvido nessa complicação é a gordura abdominal; porém, pode ocorrer encarceramento de alças do intestino.
Quando uma parte do intestino se envolve num encarceramento, a passagem do conteúdo intestinal pode ficar prejudicada. Esse quadro, se não resolvido, evoluirá com uma obstrução intestinal, que pode se transformar rapidamente numa situação grave.
Os principais sintomas desse quadro são:
- Dor abdominal
- Inchaço da hérnia que não reduz – nesses casos a hérnia pode doer com mais intensidade
- Vômitos
- Parada na eliminação de gases e fezes
Outro risco do encarceramento das hérnias é a dificuldade que o sangue pode ter em chegar a esse(s) órgão(s)! Essa dificuldade pode ser grave a ponto de causar necrose, que é o processo de morte das células. Esse quadro chamamos de hérnia estrangulada.
O estrangulamento do conteúdo herniário é uma situação catastrófica e aumenta muito a dificuldade do tratamento cirúrgico e os riscos da recuperação pós-operatória. Eventualmente o órgão estrangulado precisa ser removido do corpo e, se for o caso, o intestino reconstruído.
Os sintomas nesses quadros são mais intensos e o paciente com frequência corre para o hospital:
- Dor muito intensa
- Queda do estado geral, com fraqueza, agitação, pode haver febre
- Vômitos
- Parada na eliminação de gases e fezes
- O abaulamento da hérnia pode se apresentar avermelhado, quente e muito sensível
- Se houver redução da hérnia, a dor abdominal continuará
Assim, podemos concluir que a hérnia inguinal e as outras hérnias são doenças que causam poucos sintomas, mas que se não tratadas trazem um risco importante para o paciente!
Como podemos tratar a hérnia inguinal?
Respondendo à pergunta no começo dessa nossa discussão: O tratamento da hérnia inguinal é cirúrgico. Não há medicação ou uso de dispositivos externos que possam induzir o fechamento do defeito herniário.
No acompanhamento de hérnia umbilical de crianças, a observação até os 2 ou 4 anos costuma perceber fechamento espontâneo do defeito! Porém, em adultos essa possibilidade já não existe e o tratamento é o mesmo da hérnia inguinal e das outras, ou seja: cirurgia!
Como na maioria dos casos os sintomas são leves, a cirurgia pode ser planejada com calma e uma avaliação cuidadosa do pré-operatório é realizada. Nos casos de hérnia encarcerada ou estrangulada, infelizmente, o tratamento deverá ser realizado com urgência!
As opções de cirurgia são pela técnica aberta, por corte; ou pela técnica por vídeo, que se realiza através de três furos na barriga, dois deles de cerca de 1cm e mais um de 0,5cm.
As duas técnicas têm eficácia semelhante, com controle da dor no pós-operatório e taxas de retorno da hérnia muito parecidas. Na técnica por vídeo, porém, o retorno ao trabalho e atividades diárias é mais rápido, o resultado estético é superior pelos cortes menores.
Contudo, na técnica por vídeo, a anestesia geral é necessária. Na técnica aberta podemos utilizar a raqui-anestesia ou a anestesia peridural, ambas aplicadas nas costas do paciente, que recebe uma sedação leve para dormir ao longo da cirurgia.
A escolha por uma técnica ou outra é feita pelo paciente e seu cirurgião, considerando riscos, benefícios e necessidades de cada caso.
O tratamento de hérnias incisionais, que podem ser muito mais complexas, demanda avaliação ainda mais personalizada. É comum a necessidade de cirurgia aberta, devido ao grande volume que essas hérnias podem atingir, e anestesia geral, devido ao tempo cirúrgico mais longo.
Ao longo do texto pudemos perceber como a avaliação e o tratamento da hérnia inguinal e dos outros tipos devem ser personalizados. Conte comigo para uma avaliação cuidadosa e que priorizará seus objetivos e bem-estar! Agende sua consulta:
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Fontes:
httpss://emedicine.medscape.com/article/189563-overview
httpss://sbhernia.org.br/hernia/#definicao
Estou muito aliviada e agradecida em ter o Dr Guilherme como meu médico para a cirurgia de Hérnia. Estou com medo e ansiosa. Porém, o Dr Guilherme me deixou confiante, esclareceu todas as minhas dúvidas com muita gentileza e paciência, é muito atencioso olhando para a pessoa e não apenas o problema. Ele é muito seguro, confiante e tem muita confiança em seu trabalho. Faz questão de demonstrar o tempo todo que estará junto e por nós o tempo todo. Super recomendo o trabalho dele.
Uau, Cris! Que honra receber esses elogios. Fico feliz demais que esse momento de medo e ansiedade tenha se transformado em uma experiência tranquila e com confiança! Como seu cirurgião, eu não poderia desejar um resultado melhor. Muito obrigado por ter me permitido contribuir para sua recuperação!